quarta-feira, 21 de março de 2012

Em viagem

Essa semana não pude postar por estar sem computador, mas para esse domingão recomendo este conto que foi escrito por uma garota aos 15 anos. É bonito ver os originais no papel, assim tão bem escrito, e depois ver o texto publicado integralmente sem modifica¢ões nem revisão. É uma narrativa intensa que demonstra as angústias e visão de mundo dessa menina:

O principio do fim - D.Berto

* desculpem a falta de acentos. Computadores em novas paragens, novos acentos, letras fora de lugar e o resultado é esse.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Primeira




"As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias." C.L.


Era seu primeiro dia de aula.

Acordou muito cedo, ou melhor foi acordado, e tomou banho na tentativa de disciplinar os cabelos e saiu sem tomar café da manhã. Alimentos e caminhada não faziam bem ao seu estômago naquele horário. Desde pequeno sua mãe ficava constrangida com o menino vomitando o desjejum por toda rua, optaram por só comer depois das 10h. De barriga vazia vestia camiseta branca, tênis, jeans azul e mochila com o material.
Estava frio e a vontade maior era de ficar na cama embaixo do cobertor. No caminho via o orvalho pendurado no mato que molhava o tênis, juntando-se à terra. Ainda pôde ver o sol nascendo devagar.
A chegada foi assustadora. As ruas vazias iam dando lugar às mães e filhos, muitas e muitas crianças correndo pela rua em direção à escola. O prédio, uma espécie de caixote de concreto cercado de muros e arames, ecoava um ruído de profundezas misturado ao primeiro sinal, aquela campainha estridente, como a da fábrica vizinha de sua casa. Viu os funcionários, professores e professoras se aprontando, enquanto as crianças formavam uma fila sonolenta.
Fila formada, os professores aproximavam-se conversando sorridentes, mudando rapidamente o semblante ao cruzarem os portões do pátio principal. Notou que algumas professoras olharam para ele, afinal era novo ali, mas estavam ocupadas demais com suas turmas e não tinham tempo para qualquer atenção mais individual naquele mundo de alunos.
Sua turma entra toda na sala e um silêncio se instalou com sua chegada. Um silêncio curioso e apreensivo com o novo professor. Silêncio que não duraria muito tempo não fosse o auxílio da estagiária que o apresentou à turma naquele dia.
Dada esta introdução um pouco dramática a aula correu bem. A pouca experiência pesava, ele sabia. Mas a turma formada há um tempo já tinha sua dinâmica e o trabalho correu bem naquele dia. Não fosse por um detalhe. A vida é cheia deles.
Enquanto recolhia alguns textos numa extremidade da sala (este professor ainda não tinha dominado aquela famosa capacidade dos olhos atrás da cabeça) sentiu um vulto correndo pela porta e ouviu risos de alguns alunos. Perguntou o que tinha acontecido. E os alunos e alunas mostravam não saber e limitavam-se a balançar a cabeça e dizer é doida professor, não liga não.
Ter uma aluna desaparecida era algo que ele não poderia deixar de dar atenção. Era novo ali e uma aluna desaparecida não era nada bom. Chamou o aluno que parecia ser o mais informado da sala – justamente esse que já tinha suposições para a fuga da menina – para chamar o inspetor da escola.
Logo o menino voltou com a coordenadora da escola, o professor tremeu, sua testa suava. Fique calmo, ela está com a gente. Não se preocupe.
A aula terminou e o aluno tagarela cuidou dos materiais da menina.
O professor dispensou todos e foi até a sala dos professores.
Todos riam. Olha só, mexeu com os hormônios da menina. Eu sabia, essa vai dar trabalho aos pais.
A coordenadora o chamou num canto e explicou que a aluna virou mocinha naquele dia e correu até ela sem saber o que estava acontecendo. Esse era um assunto muito particular na vida de uma menina e não podia ser tratado com um professor, encerremos o assunto.

Hoje li Clarice e lembrei dessa história.



P.S.: Este texto é rascunho, aceito indicações, correções, críticas, etc. A história continua. Para você Danielly.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Qualquer semelhança com os fatos é mera coincidência…

(enquanto estamos discutindo este espaço vamos construindo-o)


Vou fazer esse post por dois motivos: agradecer os comentários e palavras que recebi e tratar do que será desse espaço (pelo menos do que penso que farei).

Agradeço profundamente os comentários, dicas análises e críticas, aqui no blog e no feicebúquio. Para mim tem sido muito engraçado fazer isso aqui. Engraçado do ponto de vista português de interessante e no sentido do Brasil mesmo.

Primeiro pelas diferenças na repercussão da leitura do conto Os jardins suspensos do Maranhão entre as pessoas que “conhecem” a heroína da história e para os que não a conhecem. Foi muito bom observar:

Teve gente que viu “a viva, ativa (e sumida) Jorcelina...”. Desses, todos tiveram saudades. Aí vai a primeira polêmica, essa história é completamente fictícia. Essa Celina da história está na minha cabeça, curioso andar por aí uma menina parecidíssima com essa da história não? E mais curioso essa menina andar por aí sumida.

Deve ter sido alguma epifania coletiva (umas dez pessoas).




Se existiu mesmo assim, acho que ela deve ter fugido para dentro do texto e agora pulou para a cabeça de vocês, principalmente daqueles que não a conheciam na profundidade das madrugadas, nas mesas do Dr. Beer: “às vezes estamos perto de preciosidades e não sabemos, só hoje descobri porque a Jorcelina tem esse nome e histórias tão bonitas, mesmo estudando e fazendo trabalhos com ela”, disse uma simpática leitora.

Para os que estão distante desse ambiente ficaram as impressões pessoais da infância, de textos guardados da adolescência. Textos estes que espero ler em breve e talvez postá-los aqui.

Bom também foi o fato de um simples texto ter promovido novas amizades, ou um contato mais próximo com pessoas que eu tinha tido poucas oportunidades de conversar e há muito não falava. Como uma certa professora e uma colega de faculdade, entre outros.

Para terminar aviso que na próxima semana postarei uma história novinha e também totalmente ficcional.

Abraços e até mais.

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[P.S: 1 - Os textos estão à disposição aqui, não há pressa, e estão disponíveis para download em PDF. Por fim, a quem anda recebendo propaganda indesejada me avise que eu tiro o nome dessa encruzilhada. 2 - O video linkado é mais que ilustrativo para este blog. No ano que conheci os textos de Manoel de Barros tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Mia Couto, mais que referências para mim.]