quinta-feira, 12 de abril de 2012

Novo endereço...


Olá pessoal, meus textos estão em novo endereço acessem:



Ali encontram-se outros escritores também, até lá!!!

quarta-feira, 21 de março de 2012

Em viagem

Essa semana não pude postar por estar sem computador, mas para esse domingão recomendo este conto que foi escrito por uma garota aos 15 anos. É bonito ver os originais no papel, assim tão bem escrito, e depois ver o texto publicado integralmente sem modifica¢ões nem revisão. É uma narrativa intensa que demonstra as angústias e visão de mundo dessa menina:

O principio do fim - D.Berto

* desculpem a falta de acentos. Computadores em novas paragens, novos acentos, letras fora de lugar e o resultado é esse.

quarta-feira, 14 de março de 2012

Primeira




"As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modificam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias." C.L.


Era seu primeiro dia de aula.

Acordou muito cedo, ou melhor foi acordado, e tomou banho na tentativa de disciplinar os cabelos e saiu sem tomar café da manhã. Alimentos e caminhada não faziam bem ao seu estômago naquele horário. Desde pequeno sua mãe ficava constrangida com o menino vomitando o desjejum por toda rua, optaram por só comer depois das 10h. De barriga vazia vestia camiseta branca, tênis, jeans azul e mochila com o material.
Estava frio e a vontade maior era de ficar na cama embaixo do cobertor. No caminho via o orvalho pendurado no mato que molhava o tênis, juntando-se à terra. Ainda pôde ver o sol nascendo devagar.
A chegada foi assustadora. As ruas vazias iam dando lugar às mães e filhos, muitas e muitas crianças correndo pela rua em direção à escola. O prédio, uma espécie de caixote de concreto cercado de muros e arames, ecoava um ruído de profundezas misturado ao primeiro sinal, aquela campainha estridente, como a da fábrica vizinha de sua casa. Viu os funcionários, professores e professoras se aprontando, enquanto as crianças formavam uma fila sonolenta.
Fila formada, os professores aproximavam-se conversando sorridentes, mudando rapidamente o semblante ao cruzarem os portões do pátio principal. Notou que algumas professoras olharam para ele, afinal era novo ali, mas estavam ocupadas demais com suas turmas e não tinham tempo para qualquer atenção mais individual naquele mundo de alunos.
Sua turma entra toda na sala e um silêncio se instalou com sua chegada. Um silêncio curioso e apreensivo com o novo professor. Silêncio que não duraria muito tempo não fosse o auxílio da estagiária que o apresentou à turma naquele dia.
Dada esta introdução um pouco dramática a aula correu bem. A pouca experiência pesava, ele sabia. Mas a turma formada há um tempo já tinha sua dinâmica e o trabalho correu bem naquele dia. Não fosse por um detalhe. A vida é cheia deles.
Enquanto recolhia alguns textos numa extremidade da sala (este professor ainda não tinha dominado aquela famosa capacidade dos olhos atrás da cabeça) sentiu um vulto correndo pela porta e ouviu risos de alguns alunos. Perguntou o que tinha acontecido. E os alunos e alunas mostravam não saber e limitavam-se a balançar a cabeça e dizer é doida professor, não liga não.
Ter uma aluna desaparecida era algo que ele não poderia deixar de dar atenção. Era novo ali e uma aluna desaparecida não era nada bom. Chamou o aluno que parecia ser o mais informado da sala – justamente esse que já tinha suposições para a fuga da menina – para chamar o inspetor da escola.
Logo o menino voltou com a coordenadora da escola, o professor tremeu, sua testa suava. Fique calmo, ela está com a gente. Não se preocupe.
A aula terminou e o aluno tagarela cuidou dos materiais da menina.
O professor dispensou todos e foi até a sala dos professores.
Todos riam. Olha só, mexeu com os hormônios da menina. Eu sabia, essa vai dar trabalho aos pais.
A coordenadora o chamou num canto e explicou que a aluna virou mocinha naquele dia e correu até ela sem saber o que estava acontecendo. Esse era um assunto muito particular na vida de uma menina e não podia ser tratado com um professor, encerremos o assunto.

Hoje li Clarice e lembrei dessa história.



P.S.: Este texto é rascunho, aceito indicações, correções, críticas, etc. A história continua. Para você Danielly.

quarta-feira, 7 de março de 2012

Qualquer semelhança com os fatos é mera coincidência…

(enquanto estamos discutindo este espaço vamos construindo-o)


Vou fazer esse post por dois motivos: agradecer os comentários e palavras que recebi e tratar do que será desse espaço (pelo menos do que penso que farei).

Agradeço profundamente os comentários, dicas análises e críticas, aqui no blog e no feicebúquio. Para mim tem sido muito engraçado fazer isso aqui. Engraçado do ponto de vista português de interessante e no sentido do Brasil mesmo.

Primeiro pelas diferenças na repercussão da leitura do conto Os jardins suspensos do Maranhão entre as pessoas que “conhecem” a heroína da história e para os que não a conhecem. Foi muito bom observar:

Teve gente que viu “a viva, ativa (e sumida) Jorcelina...”. Desses, todos tiveram saudades. Aí vai a primeira polêmica, essa história é completamente fictícia. Essa Celina da história está na minha cabeça, curioso andar por aí uma menina parecidíssima com essa da história não? E mais curioso essa menina andar por aí sumida.

Deve ter sido alguma epifania coletiva (umas dez pessoas).




Se existiu mesmo assim, acho que ela deve ter fugido para dentro do texto e agora pulou para a cabeça de vocês, principalmente daqueles que não a conheciam na profundidade das madrugadas, nas mesas do Dr. Beer: “às vezes estamos perto de preciosidades e não sabemos, só hoje descobri porque a Jorcelina tem esse nome e histórias tão bonitas, mesmo estudando e fazendo trabalhos com ela”, disse uma simpática leitora.

Para os que estão distante desse ambiente ficaram as impressões pessoais da infância, de textos guardados da adolescência. Textos estes que espero ler em breve e talvez postá-los aqui.

Bom também foi o fato de um simples texto ter promovido novas amizades, ou um contato mais próximo com pessoas que eu tinha tido poucas oportunidades de conversar e há muito não falava. Como uma certa professora e uma colega de faculdade, entre outros.

Para terminar aviso que na próxima semana postarei uma história novinha e também totalmente ficcional.

Abraços e até mais.

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[P.S: 1 - Os textos estão à disposição aqui, não há pressa, e estão disponíveis para download em PDF. Por fim, a quem anda recebendo propaganda indesejada me avise que eu tiro o nome dessa encruzilhada. 2 - O video linkado é mais que ilustrativo para este blog. No ano que conheci os textos de Manoel de Barros tive a oportunidade de conhecer pessoalmente Mia Couto, mais que referências para mim.]




quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Os jardins suspensos do Maranhão

Quem me contou essa história foi uma amiga chamada Jorcelina. Um nome pouco usual, eu sei. Seu pai que gostava muito de Juscelino Kubitschek não resistiu em prestar a homenagem ao ex-presidente, nem mesmo quando a criança nasceu e ele soube que era menina. O filho Juscelino se tornara uma menina espevitada e aventureira, que só atendia quando chamada por Celina.
Para a menina a vida corria como gostava, não discutindo política com o pai, mas pelos matos e nadando nas cachoeiras dos arredores do pequeno sítio em que viviam.
No tempo livre – ou melhor – nos seus horários de castigo, quando podia ler e tinha tempo para pensar na vida, ela dedicava a planejar o que queria ser quando crescer. Às vezes pendia para a medicina, salvando o povo de inúmeros males, às vezes podia ser professora, tentando ser um pouco melhor que a sua que era muito brava. Sua primeira professora, dona Lucíola, não se conformava com o fato de Celina  saber ler tão bem, mas não saber escrever uma palavra sequer.
Mas a profissão que ela sentia mais forte em seu peito era a de atriz, principalmente quando se tratava de interpretar a ela mesma.

Enganava os irmãos e pais com a maior facilidade, chorava de verter rios de lágrimas quando queria causar comoção em algum parente. Quando brincava com os amiguinhos era tão convincente que os deixava confusos. Eles nunca sabiam se ela estava fingindo ser a mãe da brincadeira de casinha ou se era a própria autoridade de mãe falando ali, naquela hora.
Nas brincadeiras com os amigos, todos eram seus amigos, tudo se tornava uma superprodução: a brincadeira de veterinária – outra das possíveis carreiras que ela pensava em seguir, além de arqueóloga, maquinista de trem, etc., etc. – parecia um filme, com figurino, cenário e tudo mais. Tinha jaleco improvisado com a camisa do pai, sala de espera composta por duas cadeiras de jardim, balcão feito com caixa de papelão, entre outros equipamentos que todo bom veterinário utiliza.
Logo armava-se uma fila de clientes de toda redondeza com seus respectivos animais. Eram bichos de todos os tipos e espécies que se possa achar num lugar como aqueles. Um destaque para o passarinho chamado Preto, um dos preferidos da menina, que encenava quase tão bem quanto ela.
No expediente daquele dia a primeira dona a trazer o seu bichinho era uma pobre velhinha solitária que tinha como única companhia o passarinho Preto.
A pequena velhinha que todas as manhãs acordava bem cedo para varrer sua calçada e alimentar seu bichinho adorava ouvir seu canto e conversar com ele. Mas aconteceu que nesta manhã a pobre senhora não ouviu seu passarinho cantar. Tomada por um sentimento de angústia que só as mães têm quando seus filhos ficam doentes, rapidamente se dirige até a gaiola e vê Preto quietinho, cabisbaixo, mal podendo levantar o olhar para sua dona.
Ela mais que depressa telefona para seu filho e pede que a leve ao veterinário, antes que fosse tarde demais.
Chegando à clínica o médico dos bichos examina, olha, e dá o parecer: Falta de vitamina.
A velhinha cai para trás dramaticamente, apertando as mãos contra o peito, enquanto o filho a ampara. Como? Por tão pouco quase havia perdido Preto! O que é a vida, às vezes por um detalhe de uma vitamina perdemos quem mais amamos. Preto olhava tristinho. Vamos Preto que vou te dar um suquinho, já acatando a receita do médico, enquanto a pequena atriz tomava o caminho da cozinha.
Com a laranjada quase pronta ouviram um grito estrondoso do severo pai e todos correram, cada um para um lado, enquanto a menina, ainda com o xale da velhinha, tentava pendurar a gaiola na parede de onde a havia tirado.
Na ponta dos pés em cima de um banquinho de madeira e com a gaiola na ponta dos dedos ela se esforçava para pendurá-la. Foi quando o pai abriu a porta repentinamente. A pequena se assustou e todos foram para o chão, banco, menina e o xale. O passarinho, enfim, estava pendurado na parede, a salvo.
O pai fez um olhar grave para a menina que engolia o choro de vergonha do tombo.
Ele olhou para a sujeira deixada pelo suco enquanto ela se levantava ainda mancando para arrumar aquela bagunça. O passarinho, lá de cima, observava com o mesmo olhar que o consagrara na cena de pássaro em estado terminal.
Os dias foram se passando, novas brincadeiras foram acontecendo, mas Preto continuava com aquele olhar. Até um dia em que a menina acordou e viu seu pai triste. Preto não cantava de cima do seu lugar preferido na gaiola. Estava deitado no chão, quieto.
A menina chorou muito e dessa vez não era para impressionar qualquer plateia. Nada que a mãe ou os amigos dissessem resolvia aquela dor.
Até que o pai resolveu  conversar com ela. Junto com seus irmãos combinaram um ritual que devolveria Preto aos céus. Encontraram uma pequena caixa, mais ou menos do tamanho do passarinho e a enfeitaram. A encheram de serragem e colocaram o bichinho enrolando em um pano branco. Por cima cobriram de alpiste, o suficiente para que no céu não faltasse nada, e colocaram a caixa em cima do telhado coberta por mais serragem, sementes e flores.
Após breves palavras do pai, que fora sacristão da igreja antes de resolver se casar e ter filhos, todos se quedaram satisfeitos, conformados com a inevitabilidade dos fatos.
Os meses foram passando, a menina e seus irmãos crescendo. Até que um dia, olham para cima e a caixinha estava cheia de ramos de plantinhas verdes com longos cabinhos fininhos.
A menina olhou e lembrou-se de Preto, ficou feliz em saber que ele tinha se transformado em jardim.



Fim.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Coisas que podem estar acontecendo na poltrona ao lado

Cenário: famigerada linha São Paulo-Marília do Expresso de Prata.

Cena 1. Uma moça japonesa de suspeitas expressões, lia com atenção "O menino que roubava livros".

Quatro policiais entram no ônibus e sentam-se nas poltronas vizinhas do lado e da frente. Todos se entreolham, ela por cima do livro pensa uma saída, eles sob os bonés buscam um comando. Depois, todos entreolham a si mesmos.

É véspera de feriado, e tudo que eles querem é descansar, só estão fardados para economizar na passagem.

Dilema, liberdade, compromisso, planos mirabolóicos, parar ou não no Rodoserv? Tantas decisões em apenas 6 horas de viagem.


O tempo passa, eles parecem dormir. A viagem é longa e ela retoma a leitura.


[...]


O sinal luminoso avisa, como o tempo passa rápido, fim de viagem "Próxima estação Liberdade".


domingo, 3 de fevereiro de 2008

O tempo dos espinhos

Terminei hoje (27/01) a leitura do Pequeno Príncípe e fiquei surpreso. Mesmo sendo uma história conhecida e cheia de beleza, a cada leitura, a obra de Saint-Exupéry se mostra mais rica, principalmente pelo diálogo construído com o leitor. - É muito verdadeiro e dá força à carga subjetiva da história.


Pensar esse livro a partir da vida do autor, não deixa de ser um exercício interessante. Escrito em plena Segunda Guerra Mundial (1939-1945), completamente envolvido na questão [o cara era piloto combatente], faz do livro um ponto de referência para a compreensão da própria Guerra, do ponto de vista de uma pessoa interessante e inteligente. Nos faz entender quando defende, sem moralismos, a extração das plantas ruins [baobás], "mal a tenhamos conhecido", revelando todo sentido em um mundo que corria sério risco com o crescimento das raízes do nazi-fascismo.

Abraço e até a próxima....